Proposta para a Construção de um Ecossistema de Empreendimentos Sustentáveis na Amazônia

04/08/2012

UFRJ transforma o bagaço de cana em fibra de carbono

30/07/2012 - 05h03
 
GIULIANA MIRANDA
FOLHA DE SÃO PAULO, caderno de ciência

Peças de carro, materiais da indústria de petróleo e até armações de óculos podem estar prestes a se juntar a etanol, cachaça e açúcar como produtos derivados da cana. Cientistas brasileiros desenvolveram um jeito de transformar os resíduos da planta em fibra de carbono, material um bocado valorizado pela indústria.

Hoje, o bagaço da cana-de-açúcar é o principal resíduo do agronegócio brasileiro. Uma tonelada da planta usada para fazer etanol produz, em média, 140 kg de bagaço. Boa parte desses restos acaba queimada nas próprias usinas como forma de gerar energia, mas é uma destinação que ainda não consegue absorver todos os resíduos gerados. Se armazenados incorretamente, eles podem se tornar um fator sério de poluição ambiental.


Editoria de arte/Folhapress

Foi pensando nisso que um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) decidiu agir e dar uma destinação mais nobre ao "lixo". Eles desenvolveram um método que extrai a lignina -uma importante molécula "estrutural" dos vegetais, responsável, entre outras coisas, pela sustentação- do bagaço da cana e a trata para que ela seja transformada em fibra de carbono. "Não é como transformar garrafa pet em tapete ou em árvore de Natal. É uma reciclagem com alto valor agregado, que pode gerar boas oportunidades, porque o Brasil ainda não tem produção industrial de fibra de carbono", diz Veronica Calado, coordenadora do trabalho e também do Núcleo de Biocombustíveis, de Petróleo e de seus Derivados da UFRJ. Na verdade, o grupo de Calado aproveita o "lixo do lixo" da cana-de-açúcar. Novas técnicas já permitem que o bagaço da produção de etanol seja tratado quimicamente e usado para dar origem a mais álcool, o chamado etanol de segunda geração.

ÚLTIMA ETAPA
 
A fibra de carbono é obtida depois que o bagaço já passou por esse segundo processo. A lignina extraída do bagaço é processada e passa por vários processos, que vão aumentando o teor de carbono. No fim, obtém-se a fibra, que é laminada e pode ser vendida para as mais diversas aplicações.
Dez vezes mais forte do que o aço, mas ainda maleável e com elevada resistência à temperatura, a fibra de carbono é um material muito valorizado no mercado, com preços que podem variar entre US$ 25 e US$ 120 por kg.

A principal maneira de obtê-la hoje é derivá-la do petróleo, com muitos aditivos." A fibra de carbono pelo reaproveitamento da cana também é sustentável nesse sentido, porque vai diminuir a dependência do petróleo para mais um uso", avalia Verônica, da UFRJ. No mundo, já existem outras iniciativas para transformar a lignina em fibra de carbono. Todos esses projetos estão também em fase experimental. O grupo brasileiro, porém, orgulha-se de conseguir fazer o trabalho com menos aditivos, obtendo ainda um "extrato" de lignina mais puro e com maior potencial de transformação.
O trabalho carioca ainda está restrito aos laboratórios, mas a técnica já se mostrou funcional. A coordenadora do estudo diz que não há ideia do preço final da fibra, mas que "com certeza ela será mais barata do que a vinda do petróleo".

Agora, os cientistas estudam a melhor maneira de patentear o projeto.

09/05/2012

Projeto Fênix Amazônico desenvolve novos materiais compósitos com fibras de árvores pioneiras da Amazônia




O projeto Fênix utiliza uma abordagem holística para propor a construção de uma rede sustentável, benigna e vibrante de empreendimentos agroflorestais e industriais na Amazônia. Inspirado nas sofisticadas soluções da tecnologia natural, o projeto visa o desenvolvimento econômico harmônico, empregando conceitos e estratégias que estimulem sinergias entre as atividades humanas sem ameaçar a integridade dos ecossistemas naturais remanescentes. Dentre suas varias propostas está a introdução de uma nova cadeia inteligente de produção para produtos ecológicos de madeira. Essa cadeia inicia-se nos plantios conjugados de espécies florestais pioneiras de rápido crescimento -para a produção de fibras-, com madeira de lei de crescimento mais lento -para produção de troncos com pequenos diâmetros-. Os plantios são utilizados na recuperação de áreas degradadas através do enriquecimento de capoeiras, o que permite a inclusão de pequenos agricultores no processo produtivo destas matérias primas. Industrias adaptadas e distribuídas na Amazônia podem então transformar fibras leves das pioneiras, ou varetas de pequenos diâmetros das madeiras duras, em uma grande variedade de materiais compósitos e outras madeiras engenheiradas (prensadas, extrudadas, injetadas, laminadas, agregadas, etc.).
O projeto Fênix Amazônico foi concebido no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação) sob a liderança do pesquisador Antonio Donato Nobre, resultado da cristalização da longa experiência do instituto em botânica, ecologia da floresta, silvicultura tropical, tecnologia da madeira e áreas afins. Depois de alguns anos de amadurecimento conceitual, o projeto atraiu parceria atuante e criativa da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que sob a liderança da professora Alessandra Lucas do Departamento de Engenharia de Materiais constituiu o Grupo de Biocompósitos e Nanobiocompósitos do Fênix.  Esse grupo surgiu e se estabeleceu com o propósito de desenvolver materiais poliméricos com farinhas de madeira e fibras das espécies pioneiras e cercas vivas propostas pelo Fênix.  O grupo da UFSCar desenvolveu novos materiais feitos da mistura de polímeros termoplásticos com as fibras de madeiras amazônicas de ciclo curto - como balsa, caroba, surucucumirá  e marupá -  além de fibras de 2 espécies de palmeiras - pupunha e tucum - para dar origem a uma grande variedade potencial de substitutos para madeira serrada. Estes desenvolvimentos surgiram de estreita colaboração com o pesquisador do INPA Antenor Barbosa, coordenador do Grupo de  Pesquisas em Silvicultura de Espécies Florestais Nativas da Amazônia, e também com grupos de outras Universidades e Centros de Pesquisa no Brasil (UFMG, UFLA, UFBA, Embrapa Instrumentação) e no exterior (Universidade de Copenhagen, INP-Grenoble e Universidade de Strasbourg). Os biocompósitos desenvolvidos, materiais híbridos com virtudes combinadas de madeira e plástico, apresentaram desempenho no mínimo similar ou até mesmo superior ao dos tradicionais compósitos com farinha de madeira de eucalipto, com destaque para surucucumirá, caroba e balsa. As principais aplicações destes compósitos são na construção civil (perfis extrudados, do tipo madeira plástica) e na indústria automobilística (peças injetadas e termoprensadas). O grupo da UFSCar busca hoje fomento para transferir a tecnologia de fabricação dos biocompósitos aos pesquisadores do INPA e auxiliar futuramente na transferência às indústrias locais interessadas na fabricação destes biocompósitos. Os estudos com nanoestruturas de celulose (nanofibrilas e nanocristais) das fibras e farinhas das madeiras Amazônicas estão em andamento e resultados iniciais indicam um excelente potencial para a obtenção destas nanoestruturas, agregando altíssimo valor à estas fibras.

Breve Introdução ao Projeto Fênix Amazônico

Para ilustrar de modo bem sumarizado, o diagrama acima mostra os principais componentes do sistema de produção por onde o ecossistema Fênix de empreendimentos sustentáveis iniciou seu pensar. A floresta conecta-se com as áreas desmatadas por seus serviços ambientais e pelas sementes de espécies madeireiras, fibrosas, oleaginosas, fruteiras, etc. que vão permitir um renascimento das cinzas nas áreas degradadas, reconstruindo ecossistemas produtivos e recriando seus serviços ambientais. Mas esse renascimento agrega agora novas formas de produção para madeiras, fibras, biocombustíveis, alimentos, etc. Como a simples produção de materiais naturais não se sustenta como alternativa econômica viável, é necessária agregação de valor, daí sugere-se a industrialização nas fronteiras rurais, que vão produzir riqueza através da tecnologia e do design em produtos ecológicos de madeira e outros. Por fim, faz-se a ligação com os ecossistemas urbanos através do fornecimento de moveis, casas e artefatos de madeira  em uma direção e no contra fluxo o recolhimento de resíduos plásticos, minerais, etc, que serão reciclados na fabricação dos produtos tecnológicos desta nova madeira ecológica.

18/04/2012

Fenix Amazônico na revista Arquitetura & Construção

Abril/2012
Reportagem Lilian Primi

Um novo uso para a chamada madeira de ciclo rápido propõe uma solução para abastecer a indústria da construção brasileira e gerar menos impacto nas florestas. Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (lnpa) desenvolveram um material feito da mistura de polímeros com madeiras amazônicas - como a balsa, a caroba e a embaúba - para dar origem a decks, paredes, mourões, portões, muros, pontes e passarelas. Esses elementos foram largamente testados nos laboratórios da universidade paulista, que comprovou: o material pode substituir madeiras nobres e o PVC. Mais leve que os dois e igualmente durável, não exige manutenção de nenhum tipo. A surucucumirá (abaixo, na foto à dir.) é um exemplo que leva apenas dois anos para entrar na idade de corte e pode ser cultivada ao lado de árvores como o mogno, o cumaru e o angelim, ocupando as porções do terreno onde elas não crescem mais. Alessandra de Almeida Lucas, pesquisadora do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, conta que, por poderem ser cultivadas em espaços descampados, essas espécies ainda ajudam a recuperar terrenos degradados - os buracos de devastação que engolem a floresta Amazônica num ritmo de 5 mil km2 por ano, segundo dados do governo federal. A ideia é encontrar parceiros para que comunidades extrativistas produzam o material.



REPERTÓRIO

Esse novo material faz parte do Projeto Fênix. Ação conjunta de várias universidades brasileiras,
tem como foco estudos que observam o aproveitamento sustentável de materiais obtidos de ecossistemas da floresta Amazônica e iniciativas que contribuam para a preservação e a regeneração dos recursos naturais da região. As pesquisas podem ser acompanhadas por meio do blog Fênix Amazônico (fenixamazonico.blogspot.com.br). O estudo feito pelo lnpa em parceria com a UFSCar
está disponível na íntegra no site  www.scielo.br.

14/02/2012

Engenheiro inventa chuva sólida para ser usada na agricultura

14/02/2012 - 15h31
FOLHA DE SÃO PAULO

Uma "chuva sólida", fabricada nos mesmos moldes das fraldas descartáveis de bebês, é a nova tecnologia para ser aplicada na agricultura durante períodos de seca.

A invenção do engenheiro mexicano Sergio Rico, do Instituto Nacional de Politécnica, usa o poliacrilato de sódio. A substância é capaz de concentrar grandes quantidades de água em forma de gel.

Henry Romero/Reuters
O gel que absorve a água da chuva é enterrado nas raízes das plantas para mantê-las úmidas
O gel que absorve a água da chuva é enterrado nas raízes das plantas para mantê-las úmidas

O bloco de gel é colocado perto da raiz do vegetal para que possa absorver a água das chuvas. Cada quilo de chuva sólida armazena litros de água. Detalhe: a vida útil do produto é longa, variando entre oito a dez anos.

A equipe de Rico já testou a chuva sólida em pés de milho e obteve uma colheita bem superior ao método tradicional utilizado para aguar a área plantada.

13/02/2012

Garrafas PET podem ser usadas para a produção de verniz

13/02/2012 - 09h34
GIULIANA MIRANDA
FOLHA DE SÃO PAULO

Em vez de ir para o lixo, garrafas PET usadas podem ser transformadas em matéria-prima para a produção de verniz, substituindo compostos derivados de petróleo.

No seu estudo de mestrado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o químico Antonio Eduardo Ferreira Alves da Silva desenvolveu uma técnica para transformar as garrafas plásticas jogadas no lixo em um verniz em pó que pode ter várias aplicações: de utensílios domésticos a eletrônicos e indústria automotiva.

O experimento, que já foi patenteado, levou a última edição do prêmio de pesquisa da Abripet (Associação Brasileira da Indústria do PET).

"O trabalho é importante porque aproveita um material que seria descartado e poderia acabar jogado de qualquer jeito, prejudicando o ambiente", disse Silva, que já tinha grande experiência no mundo das tintas industriais antes de se aventurar pelo ramo da pesquisa.

O cientista lidou com material que já havia sido descartado. Após serem moídas, as garrafas passam por um processo de degradação que altera seu peso molecular.

O material passa ainda por outros processos até ser incorporado à receita que forma o verniz sustentável.

O resultado já mostrou que o material é viável para diversos usos e aderiu bem às superfícies em que foi testado.

APERFEIÇOAMENTO
 
Silva ressalta que o verniz em pó ainda precisa ser aperfeiçoado antes de entrar no mercado --o que ainda não tem previsão de acontecer.

"Para ser comercializado, é preciso resolver alguns problemas eventuais, como a formação de bolhas."
Além disso, diz o cientista, o material é bastante duro. "Algumas aplicações pedem maleabilidade do verniz. É uma propriedade que precisa ser levada em consideração", completa.

Por enquanto, o verniz em pó sustentável de Silva ainda está restrito ao laboratório, mas já existem no mercado tintas e vernizes que usam o PET como um de seus componentes.
"Mas o uso ainda é restrito. Temos que disseminá-lo", afirma Silva.

26/05/2011

Madeira plástica tem que ser de lei

Marcos Sá Correa

29.02.2004  |  Calma. O planeta ainda não chegou ao ponto de lhe pedir para mobiliar a casa com madeira plástica. Mas está ficando difícil explicar por que ainda é preciso derrubar árvores para fazer banco de jardim, mesa de varanda, mourão de cerca, caibro de telhado, estaca de píer ou deque de piscina. Tudo isso já se faz sem ligar a motosserra, com ripas que vêm do lixo, em vez de serem arrancadas das florestas.

E às vezes que é feito com ela sai até melhor do que antes, como acontece com os dormentes. Nesse caso, posta sob as linhas ferroviárias, onde as toras clássica de eucalipto, encharcadas de creosoto, porejam ao longo de sua vida útil, um veneno capaz de contaminar o solo, a madeira plástica brilha como trilhos, indicando o caminho por onde certamente correrão as estradas de ferro do futuro.

É que, ao contrário da madeira natural, a plástica vem de fábrica imunizada contra fungos, cupins e outras pragas. Dura, deixada ao tempo, pelo menos 50 anos, sem tratamentos tóxicos. Resiste a cargas de até 80 toneladas, que reduziriam dormentes convencionais a maços de farpas. E amortece as vibrações que esmerilham rolamentos nas rodas dos trens, coisa que um bloco de concreto não faz.

Mas o melhor é que a madeira plástica é feita de frascos, garrafas, copos descartáveis, embalagens e outros fantasmas de poliolefina que poluem a xepa urbana. Sobretudo no Brasil, onde 76% dos resíduos são jogados a céu aberto e a nata de PET que bóia na Baía de Guanabara tem sido o indício mais persuasivo de que o programa de despoluição botou fora onze anos e US$ 800 milhões de dólares.

Ver a madeira plástica brotar como pasta de bisnaga – com forma, textura e até cor da madeira verdade – do caldo de entulho petroquímico digerido pela máquina parece mágica até para quem aposta pesado nesse novo trunfo da reciclagem. “Sempre que vejo ela saindo do molde eu me impressiono como da primeira vez”, diz Geraldo Pilz, que fabrica por semana três toneladas de madeira alternativa na Baixada Fluminense.

Ele é dono da Cogumelo, uma fábrica de perfis em fibra de vidro plantada em Campo Grande, a antiga Zona Rural do Rio de Janeiro. Pilz tem 65 anos. Sua fábrica, 31. Mas ambos ainda vivem correndo atrás de atrás de novidades. Ele é aquele tipo de empresário que conversa com a mão no ombro do funcionário, “para ele relaxar”. Formou-se em economia, mas vai logo avisando que não tem nem quis ter M.B.A., o diploma americano de mestrado em administração que se traduz em português por altos salários em administração de empresas. “Eu só tenho T.B.C.”, declara.

T.B.C. quer dizer: “Tire a Bunda da Cadeira”. É o mesmo diploma que ele cobrou do filho, para quem vai agora passando aos poucos as rédeas da empresa. Daniel Pilz nasceu no mesmo ano da Cogumelo, fez em desenho industrial. Foi campeão sul-americano de wind-surf e andou metido com pára-quedismo e vôo-livre. Estava quase se profissionalizando em esportes radicais quando o pai o chamou da Austrália para cursar o T.B.C. em Campo Grande.

Chamar a Cogumelo de empresa familiar é eufemismo. Além de Daniel, Áurea, a mulher de Geraldo, trabalha na administração da fábrica. Os três têm o hábito de chegar cedo e sair, comer de bandejão e encaixar visitas a clientes em viagens de recreio. O filho, nos fins de semana, veste a camiseta da firma e carrega sempre em cima do carro, um Land Rover, as escadas de alumínio e fibra de vidro que foram o penúltimo lançamento da fábrica, antes da madeira plástica.

É um modo de mostrar ao mundo que ela existe. Essas escadas desembarcaram no Brasil há poucos anos. Ao resolver produzi-las aqui, com licença da Werner Ladders americana, Pilz foi visitar pessoalmente velhos fabricantes de escadas de madeira no mercado nacional, para lhes falar das excelências do similar em liga leve. Queria, na época, oferecer-lhes a matéria-prima. “Mas eles me puseram para correr e não tive outro jeito senão fabricar eu mesmo as escadas”, conta Pilz. Dispensado como fornecedor, tornou-se concorrente da indústria tradicional e acabou por lhes tomar grandes clientes, como companhias de eletricidade, telefônicas e até bombeiros.

Aliás, “a vantagem de circular com essas escadas na capota é que as pessoas pensam que meu carro é da Telerj”, explica Daniel. Em teoria, assaltantes não se interessam por carros da Telerj. Na prática, a família inteira se comporta como propaganda ambulante da Cogumelo, que originalmente se especializava em produtos mais ou menos obscuros, como cabos, tubos, grades e outros produtos de uso industrial.

Oficialmente, ela se apresenta como uma fábrica de “pultrudados”. Mas não adianta procurar no dicionário. A palavra não existe. É um neologismo estritamente técnico, trazido diretamente do inglês para batizar o processo contínuo de modelagem da fibra de vidro em formas quentes. Trata-se, em resumo, de uma variante patenteada da extrusão. Nos primeiros tempos, dava um trabalho danado explicar aos leigos o que vinha a ser aquele “pultrudado” impresso no logotipo da firma, cada vez que Daniel parava o Land Rover em estacionamentos públicos.

Com tais antecedentes, vender madeira plástica num país que ainda não começou a comprá-la é o de menos para os Pilz. Não é a primeira vez que eles promovem soluções para problemas que não parecem incomodar os brasileiros. A própria Cogumelo só está aí porque, trinta e tantos anos atrás, Geraldo Pilz se rebelou contra o conteúdo das caixas de componentes importados que costumava abrir na Caterpillar da Bahia. Era então gerente de peças. E não entendia por que o Brasil deveria que trazer do exterior bugigangas que qualquer país é capaz de fazer, como “tijolo de ferro com um furo no meio” ou lâmpada G&E para trator Caterpillar.

De tanto dicsutir, mudou-se para a Sotreq, no Rio de Janeiro. Onde continuou recebendo os mesmos contêineres com as mesmas encomendas. “Não era isso que eu queria fazer na vida”, ele alega. Demitiu-se, pegou o fundo de garantia e, “com a cara, a coragem e a mulher grávida”, fundou em 1972 a Indústria de Componentes de Tratores Ltda. Era um oficina de fundo de quintal. Fazia tetos em fibra de vidro para trator porque, naquele tempo, “tratorista tinha que trabalhar num banco aberto, cozinhando ao sol”.

O produto emplacou. Emplacou tanto que, na virada dos anos 80, todos tratores nacionais passaram a sair da linha de montagem com tetos iguais ao seu, mas feitos pelas grandes marcas. A fabriqueta de Pilz foi à lona. Chegara a fazer 80 cabines por dia. Estava reduzida a meia dúzia. E, para piorar as coisas, o proprietário tinha brigado com os antigos clientes, processando-os por abuso de poder econômico. Foi quando caiu nas mãos de Pilz uma revista técnica, contando que nos Estados Unidos já se faziam perfis em fibra de vidro pela tal da pultrusão.

“ Fui na mesma hora para lá, bater na porta de quatro empresas, com meu inglês de índio”, ele lembra. “Numa delas, a da Pensilvânia, o sujeito que me recebeu estava usando botas. Eu me senti no lugar certo. Fomos almoçar. Pedi-lhe para comprar a tecnologia, mas não as máquinas, porque isso o Brasil podia fazer para mim. Ele topou e quis saber quando eu mandaria para meu engenheiro para o treinamento. Respondi que o engenheiro tinha que ser eu mesmo”.

Pagou o know-how em oito parcelas. Ao fechar o contrato não tinha dinheiro para a primeira prestação. Mas, no Rio, os funcionários se reuniram com Áurea e lhe ofereceram um crédito no valor do décimo-terceiro salário que tinham a receber. Dos 30 empregados que entraram nessa coleta, 15 trabalham até hoje na casa. Os outros só saíram aposentados.
Com o fiasco das cabines de tratores, ele tinha aprendido “que no Brasil a gente tem que diversificar, para resistir. Senão, quando vem uma crise, e aqui sempre vem uma crise, o empresário demite os funcionários que não tinham nada a ver com isso. Quem tem obrigação de prever a crise é o patrão”. Hoje, a Cogumelo funciona com 150 funcionários.

Pilz chegou à madeira plástica de tanto procurar opções conta os achaques do mercado. “Na ocasião, nem me passou pela cabeça que ela também tinha vantagens ambientais. Depois é que a ecologia me entrou no sangue. Mas estava mesmo era querendo um jeito de depender menos das multinacionais que me fornecem a matéria-prima. Fibra de vidro custa muito caro para o Brasil. Eu geralmente acompanho seu preço, comparando-o com a cotação do quilo de filé-mignon”.

O remédio estava na reciclagem de lixo. Pilz pôs o olho nas fábricas americanas que, nos anos 90, tiraram proveito da legislação ambientalista. Depois que as construtoras tiraram as mãos das últimas reservas públicas de cedro e sequóia, até madeireiras tradicionais, como a Georgia-Pacific e a Weyerhaeuser, deram para oferecer aos consumidores deques pré-fabricados em madeira plástica.

Pilz comprou a tecnologia de Scott Hauser, ex-sócio minoritário da U.S. Plastic Plumber, pioneira do ramo. E fez o serviço completo. Trouxe-o ao Brasil para ver como funciona a coleta de lixo no aterro sanitário de Gramacho, com crianças disputando espaço com urubus. “Sou da opinião que eles têm que conhecer nossos problemas”, diz ele. Também lhe ofereceu, neste verão, um mês de férias no Rio de Janeiro por conta da empresa, aproveitando sua presença aqui para dar os últimos retoques em sua máquina.

A Cogumelo sozinha. Sua madeira plástica não tem concorrência, exceto a que é feita, por processos meio artesanais, numa fazenda devotada à recuperação de drogados no interior de São Paulo. O problema é que o país mal sabe que ela existe. A começar pelos marceneiros. Ela pode ser furada, serrada, aparafusada e pregada como a madeira comum. Dispensa verniz. Vem tingida de fábrica, para sempre. Custa mais ou menos o mesmo que o metro quadrado de pinho. Sai da fábrica em vários calibres. E seu comprimento, como não tem relação com altura de árvore, só tem um limite: a capacidade que tem o cliente de transportá-la.

Então está tudo resolvido? “Não”, responde Pilz. Porque falta, como sempre, a parte do governo. “E não estou pedindo favor nenhum”, ele ressalva. Só quer que a lei descubra a madeira plástica. Nos Estados Unidos, ela pegou graças aos dispositivos que inibem o desmatamento ou proíbem caminhões que transportam alimentos de usar prateleiras de compensado natural, sujeitas a rachadores que viram ninhos de fungos. Por por essas e outras, 25 fábricas americanas já fazem madeira plástica, produto que mal passou do décimo aniversário.

Aqui, a Cogumelo tem que montar bancos e mesas de jardim, para mostrar que a reciclagem funciona. Basta-lhe uma única máquina para suprir toda a demanda. Mas a Companhia Vale do Rio Doce encomendou, experimentalmente, os primeiros dois mil dormentes de madeira plástica. Dois mil dormentes dão um quilômetro de linha férrea. E consomem 160 toneladas de lixo plástico.

Quer saber o que isso significa? Multiplique a equação da CVRD pelos trilhos da rede ferroviária nacional. Ou por qualquer outra equação que troque por ela a madeira vegetal desperdiçada em portos, construção civil ou cercados. O resultado, conclui Geraldo Pilz, “é que a esta hora eu estaria cercado de concorrentes e pagando anúncios na televisão, pedindo para comprar a domicílio todo o lixo plástico que os cariocas quisessem me vender. Dava para buscá-lo de casa em casa. E ele sumiria de nossas cidades, como sumiu a lata de alumínio, desde que o Brasil resolveu reciclá-la”.

Matérias:

10/04/2011

Mono tocón subsiste en pequeño paraíso privado

Un bosque joven, plantado por una mujer de la Amazonia peruana, atrajo a unos 40 ejemplares de un pequeño primate que ya no encuentra lugares donde sobrevivir.
JUANJUÍ l Tierramérica  Por Milagros Salazar, enviada especial

La especie Callicebus oenanthe sólo habita en esta zona selvática de San Martín, Perú.
Un área de conservación de apenas 23,5 hectáreas se transformó en refugio de un animal único y en peligro en la región nororiental San Martín: el mono tocón. Una mujer que ama la vida rescató este lugar hace 17 años.
De pronto se escuchan unos cantos guerreros. Algunos provienen del norte, otros del sur, luego del oeste y del este. Marcan el territorio al amanecer y proceden de 10 familias de monos tocones (Callicebus oenanthe), cada una de cuatro miembros: padre, madre y dos vástagos.
"Cada uno grita en diferente momento, pero todos entre las seis y 7:30 de la mañana", describió a Tierramérica la joven bióloga estadounidense Josephine (Josie) Chambers, que muestra emocionada las pruebas en videos y fotos.
Son color entre parduzco y anaranjado y miden 30 centímetros de largo. Algunos miran con curiosidad a la cámara, otros se esconden y emiten ruidos en señal de peligro. Todavía existen y se han refugiado en el área de conservación privada Pucunucho, en la provincia Mariscal Cáceres de San Martín, administrada por la no gubernamental Amazónicos por la Amazonía - AMPA.
Esta región es una de las tres más deforestadas de la Amazonia peruana. Para afrontar el problema, organizaciones sociales y pobladores consiguieron que el Estado les concediera cuatro áreas de conservación con una superficie total de 267.133 hectáreas, amparándose en la Ley Forestal y de Fauna Silvestre de 2000.
Pucunucho forma parte de esa red para preservar o restaurar la biodiversidad.
"Sorprende que un bosque joven como el Pucunucho, recuperado en sólo 16 años, pueda ser el refugio de una especie en vías de extinción", dijo Chambers, que a los 21 años ya tuvo oportunidad de trabajar con los monos colobos rojos de Uganda y los monos machín de cara blanca de Costa Rica.
Los tocones pueden vivir apenas hasta una altitud de 1.000 metros sobre el nivel del mar, en las zonas bajas donde más ralean los bosques, que han cedido terreno a la agricultura, la ganadería y los centros urbanos. Pucunucho, por ejemplo, está a apenas 10 minutos en automóvil de la zona urbana de Juanjuí, capital de Mariscal Cáceres.
"Se requiere ampliar su hábitat para que no se queden aislados porque, si no, en 30 o 40 años van a desaparecer al no haber intercambio genético", describió la bióloga.
El Proyecto Mono Tocón aspira a crear un corredor de 180 hectáreas. Para eso se requiere ayuda de los vecinos del lugar, pues deben ceder una parte de sus terrenos.
El corredor se ubicaría en las zonas laterales de la microcuenca del río Pucunucho, que nace entra las cuencas de los ríos Huallaga y Huallabamba.
"Sí, estaría dispuesto a ayudar a cuidar a los monitos", dijo a Tierramérica Isaías Moreno, de 70 años y vecino del Pucunucho. El quiere seguir los pasos de Trinidad Vela, una mujer ahora de 74 años que en 1994 empezó el rescate de este bosque cultivando especies oriundas de la zona.
"Hubo una mano inteligente de mi madre: primero buscó plantas propicias como las leguminosas para recuperar el suelo, después cultivó yacushimbillos (Inga sp.), aguajes (palmeras Mauritia flexuosa), moenas (Aniba gigantiflora), caobas, todo en desorden como en un bosque natural", explicó emocionada a Tierramérica la bióloga Karina Pinasco, hija de doña Trinidad, como se la conoce en la zona.
La cruzada iniciada por su madre permitió recuperar el caudal del Pucunucho, que estaba seco. En 2005, esa agua salvó a sus vecinos agricultores de una fuerte sequía. Hoy, la sorpresa son los monos tocones, que se alimentan principalmente del yacushimbillo y de frutas.
"Cuando empecé a recuperar el bosque, no pensé que se convertiría en un hábitat con tanta vida", dijo Vela a Tierramérica.
Pero las amenazas están latentes porque los pobladores cazan a los monos como alimento y hay proyectos de desarrollo que no consideran el impacto ambiental.
En abril de 2010 la empresa estatal Electro Oriente deforestó parte de la zona para colocar una torre de alta tensión sin pedir permiso. Pinasco hizo entonces una valorización de las especies de flora y fauna afectadas, que ascendía a 117.357 dólares.
La compañía fue denunciada de inmediato, pero la fiscalía ambiental regional notificó a Pinasco hace poco que no existió delito ambiental.
En Pucunucho hay una gran riqueza de especies. El equipo de biólogos que investigó a los tocones ha identificado variedades de aves como pavas de monte, tucanes, colibríes y shanshos (Opisthocomus hoazi), considerados el eslabón perdido de las aves primitivas, una suerte de reptiles emplumados.
"Perú es un país megadiverso que da vida a especies únicas en esa transición entre la selva y (la cordillera de) los Andes. Hay mucho que investigar aquí", dijo a Tierramérica el biólogo español César Aguilar.
Chambers y Aguilar llegaron a San Martín enviados por la organización no gubernamental británica Neotropical Primate Conservation. Aquí tomaron contacto con AMPA y con un grupo de jóvenes ingenieros ambientales de la zona que desde 2007 trabajan en el rescate del mono tocón, entre ellos Sergio Rodríguez.
"Me llamó la atención la forma en que se agrupan (los tocones) y que, a diferencia de otras primates, es el macho el que carga las crías y no la madre", dijo Rodríguez, de AMPA.
Según las indagaciones de este grupo, la especie se encuentra en la zona del Alto y Bajo Río Mayo y llega hasta el Huallaga central, en una extensión de 8.640 kilómetros.
"Queremos hacer un circuito turístico para que nuestra gente conozca lo que tenemos", señaló el alcalde de la provincia Mariscal Cáceres, Renán Saavedra, quien el lunes 4 de abril recorrió muy temprano el Pucunucho y escuchó los cantos guerreros de los monos